Com trabalho por conta própria em nível recorde, número de MEIs ultrapassa a marca de 9 milhões

Publicado em 7 de Outubro de 2019

O número de microempreendedores individuais (MEIs) no país ultrapassou pela primeira vez a marca de 9 milhões. Somente neste ano, o número de brasileiros decidiram optar por essa modalidade de atuação no mercado de trabalho já chega a quase 1,3 milhão.

Segundo dados do Portal do Empreendedor do governo federal, o número total de registros de MEIs atingiu 9,031 milhões no final de setembro, o que representa uma alta de 16,7% na comparação com o final do ano passado (7,74 milhões) e de 21,6% em 12 meses (no final de setembro de 2018 eram 7,42 milhões).

O MEI é um regime tributário criado para incentivar e facilitar a formalização de pequenos negócios e de trabalhadores autônomos, como vendedores, manicures, cabeleireiros e prestadores de serviços autônomos. O programa completou 10 anos em 2019 e tem ajudado a tirar muita gente da informalidade. Com o registro, o microempresário pode ter CNPJ, emitir notas fiscais, alugar máquinas de cartão e também acesso a direitos e benefícios previdenciários.

Apesar da maior popularização do programa, o aumento do número de MEIs também é resultado da lenta recuperação da economia e as dificuldades para se inserir no mercado de trabalho. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a categoria por conta própria (que inclui os MEIs e também os trabalhadores autônomos informais) atingiu 24,3 milhões de pessoas no trimestre encerrado em agosto – maior nível já registrado no país, com um avanço de 4,7% (mais 1,1 milhão de pessoas) em relação ao mesmo período do ano passado.

Com as mudanças das relações de trabalho e com o desemprego ainda muito alto, o MEI tem se transformado não só em uma opção de ocupação temporária ou estratégia de sobrevivência, o chamado "empreendedorismo por necessidade", como também uma maneira prestar serviços a terceiros, realizar diferentes trabalhos e obter renda atuando como pessoa jurídica a um custo baixo.

Para a subsecretária de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas, Empreendedorismo e Artesanato do Ministério da Economia, Juliana Natrielli, o MEI vai muito além da mera formalização do "bico".

 

“Eu vejo como mais uma opção dentro de um mercado de trabalho que está em mudança no mundo todo. Estamos muito mais ampliando as opções para o cidadão do que restringindo pela situação do desemprego. A crise pode ter colocado mais pessoas para buscar o MEI como uma alternativa, mas que bom que elas têm essa alternativa e não estão na informalidade", diz a chefe do programa, que está sob a responsabilidade da Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade.

 

Alternativa para driblar desemprego e iniciar a carreira

O MEI tem sido também porta de entrada no mercado de trabalho para jovens que não conseguem emprego com carteira assinada.

O professor de História Rodrigo da Silva Bastos Santana, de 20 anos, conta que decidiu virar MEI após passar a trabalhar como professor de aulas particulares para obter alguma renda.

"Depois de formado, fiz uns bicos, mas registrado nunca fui. Como desde novo eu dava aulas particulares, transformei isso numa forma de gerar renda e em uma atividade de empreendedorismo. Mas é um trabalho duro. Tem época que estou com 8, 10 alunos. Tem outras que estou só com 3", afirma o professor, que divulga as suas aulas principalmente pelas redes sociais.

Apesar de se declarar satisfeito com a maior flexibilidade e com os resultados que vem obtendo, ele diz que ainda deseja ter um trabalho fixo, com 13º salário e férias. "No momento, empreender é a forma. Dependendo do mês, consigo ganhar mais do que a minha esposa que tem carteira assinada e trabalha como bibliotecária. Mas futuramente penso em ter uma oportunidade de emprego em uma escola. Daí eu continuaria sendo empreendedor apenas nas minhas horas vagas", diz.

Já o professor particular e youtuber Felipe Castanheira, de 27 anos, viu no MEI uma oportunidade para aumentar a renda e ampliar as oportunidades de negócios. Formado em Engenharia Civil e com pós-graduação em Gerenciamento de Projetos, ele dá aulas há 3 anos para estudantes e candidatos de concursos públicos e decidiu recentemente se formalizar como microempreendedor para poder oferecer as suas aulas também em diferentes plataformas e sites de cursos online.

Ele conta que desde a época da faculdade sempre trabalhou por conta própria e que só teve 1 mês de emprego com carteira assinada.

"A gente cresce aprendendo que tem que se formar e conseguir um emprego bom. Fiz isso. Entreguei currículo para um monte de empresa e fiquei bastante tempo assim. E se eu fosse dar um conselho para quem está começando hoje eu diria que existem outras formas de começar uma carreira", afirma o professor microempreendedor.

 

Apesar da renda variar bastante de mês para mês, e da rotina da trabalho de até mais de 10 horas dependendo do dia, o professor afirma estar garantindo uma renda superior a dos salários oferecidos no mercado para profissionais com a sua qualificação. "Não me vejo entregando currículo mais. Não abro mão de futuramente trabalhar como engenheiro ou de mudar de carreira, mas hoje me vejo como empreendedor e pensando em desenvolver mais negócios e projetos", diz.

Atividades em alta entre MEIs

Os serviços de aulas particulares e cursos livres estão entre as atividades em alta no número de registros de MEIs. Levantamento da fintech MEI Fácil mostra que, somente de janeiro a setembro, foram mais de 56 mil novos cadastros na categoria "outras atividades de ensino".

Embora as atividades que mais crescem entre os MEIs ainda sejam as relacionadas ao comércio, serviços de beleza e ao setor de construção e reformas, o levamento mostra o avanço de ocupações associadas a serviços oferecidos por aplicativos como entregas por motociclistas e bikeboys, refeições prontas e comida caseira – fenômeno também chamado de "uberização", em referência à multiplicação de negócios que replicam o modelo do aplicativo de transporte Uber.

Atualmente, são mais de 500 atividades permitidas para o registro de MEI. Além da atividade principal, o microempreendedor pode registrar até 15 ocupações para atividades secundárias.

"Há diversos setores da nova economia que permitem esse trabalho mais flexível. Seja por necessidade ou por verem uma oportunidade, as pessoas estão enxergando que as relações de trabalho podem ser diferentes. Que você pode trabalhar em part-time (tempo parcial), escolher para trabalhar para empresas diferentes, com projetos e isso tem feito com que esse movimento de alta aconteça", diz Marcelo Moraes, diretor executivo da MEI Fácil, que oferece serviços financeiros aos microempreendedores.

 Uma nova norma publicada pelo governo federal em agosto passou a permitir que motoristas de aplicativo independentes também se registrem como MEI. "Temos hoje uma modernização do trabalho e o MEI passa ser uma forma de contratação viável, garantindo o direito das pessoas, como também uma tendência devido a essa situação de informalidade e trabalho por conta própria", afirma Juliana Natrielli.

Custos e vantagens de ser MEI

Pelas regras do programa, podem ser MEI negócios que faturam até R$ 81 mil por ano (ou R$ 6,7 mil por mês) e têm no máximo um funcionário. Atualmente, o custo mensal do registro é de R$ 49,90, que pode ser acrescido de R$ 1, R$ 5 ou R$ 6, conforme o ramo de atividade exercida. Este é o único imposto a ser pago.

Ao se cadastrar como MEI, o empresário é enquadrado no Simples Nacional – com tributação simplificada e menor do que as médias e grandes companhias – e fica isento dos tributos federais (Imposto de Renda, PIS, Cofins, IPI e CSLL).

Além da obtenção de CNPJ, o MEI permite a emissão de notas fiscais, fazer compras mais baratas, acesso a crédito mais barato, a participação em licitações e cobertura previdenciária. Desde que o empreendedor pague a mensalidade em dia, ele tem direito à aposentaria por idade ou invalidez e benefícios como auxílio-doença e salário-maternidade.

Além do pagamento mensal do imposto, o MEI também precisa enviar todo ano para a Receita a declaração de faturamento anual para a Receita. Pelas regras do programa, 2 anos consecutivos de não pagamento da guia de recolhimento mensal e de omissão da declaração anual das operações comerciais podem levar também ao cancelamento do CNPJ.

 

Fonte: G1. Acesso em :<https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/10/06/com-trabalho-por-conta-propria-em-nivel-recorde-numero-de-meis-ultrapassa-a-marca-de-9-milhoes.ghtml?utm_source=akna&utm_medium=email&utm_campaign=Press+Clipping+FENACON+-+07+de+outubro+de+2019>